Videoaula: Triângulos do pescoço

O pescoço, ou a região cervical, é talvez uma das regiões mais complexas do corpo, anatomicamente. Apesar de ser uma região relativamente pequena, o pescoço certamente abriga um grande número de estruturas, como músculos, vasos sanguíneos e nervos.

Mas existe alguma forma de organizar e lembrar todas estas estruturas? Bem, felizmente existe e, hoje, nós vamos explorar exatamente isso conforme aprendemos sobre os triângulos do pescoço.

Os triângulos do pescoço são simplesmente um método de organização que divide ou compartimentaliza a grande quantidade de detalhes anatômicos que é encontrada nos aspectos anterior e lateral do pescoço em unidades de estudo administráveis e fáceis de lembrar - um mapa do pescoço, para resumir.

Então nesta videoaula nós vamos examinar cada um dos triângulos do pescoço, e nós vamos aprender sobre as referências anatômicas e estruturas que nós podemos ver nestes triângulos e suas adjacências.

Quando nós estamos vendo a anatomia do pescoço, precisamos nos lembrar que ele pode ser dividido em duas metades simétricas pela linha mediana do pescoço, que cursa desde a sínfise mandibular até o manúbrio do esterno, inferiormente. Então quando estivermos vendo os triângulos do pescoço, não se esqueça que na maioria dos casos existem duas unidades de cada triângulo - um triângulo esquerdo e um direito.

Se nós mudarmos para uma vista lateral do pescoço e removermos a pele, o platisma e a camada superficial da fáscia cervical profunda nós podemos apreciar melhor as estruturas que cursam no interior destes triângulos.

Os triângulos do pescoço podem ser divididos em dois grupos principais - o triângulo anterior e o triângulo posterior - e o ponto de divisão é no músculo esternocleidomastóideo, que é um grande músculo que fica evidente quando você gira a sua cabeça de lado.

Primeiro nós vamos discutir o triângulo anterior do pescoço, que envolve a área cervical, vista aqui destacada em verde. O triângulo anterior é limitado lateralmente pelo músculo esternocleidomastóideo, cujo ventre muscular pode ser visto aqui, medialmente pela linha mediana do pescoço, que nós vimos anteriormente, e superiormente pelo corpo da mandíbula. E você pode imaginar que o ápice do triângulo anterior aponta em direção ao manúbrio do esterno.

O triângulo anterior do pescoço é ainda subdividido em triângulos menores - o triângulo submandibular, o triângulo submentual, o triângulo carotídeo e o triângulo muscular - que serão discutidos em breve.

Vamos agora dar uma olhada no triângulo submandibular, que fica situado inferiormente à mandíbula, onde as glândulas submandibulares estão localizadas, como o nome sugere. O triângulo é limitado superiormente pela mandíbula e pelos ventres anterior e posterior do músculo digástrico.

O assoalho do triângulo submandibular é formado pelo músculo milo-hióideo, assim como o músculo hioglosso, que também formam o assoalho da cavidade oral. O triângulo é ainda recoberto pela pele, fáscia e pelo platisma, que é o músculo fino e superficial do pescoço. A cobertura ou teto de todos os triângulos será a mesma.

O triângulo submandibular contém muitas estruturas, portanto torna-se uma localização anatômica importante. O músculo milo-hióideo divide o triângulo submandibular nos compartimentos superficial e profundo e na camada superficial do triângulo você irá encontrar a glândula submandibular e seus linfonodos. A artéria facial e sua veia correspondente cursam através da glândula e emitem um ramo chamado artéria submentual, que vasculariza a área do queixo, junto com a veia submentual. O nervo milo-hióideo, que se origina do ramo mandibular do nervo trigêmeo, inerva o músculo milo-hióideo e o ventre anterior do músculo digástrico, e pode ainda ser encontrado no triângulo submandibular.

Na camada profunda do triângulo submandibular o músculo gênio-hióideo é visto na linha média do assoalho da cavidade oral, e o músculo hioglosso, que é um dos músculos da língua, é observado. E esta pequena artéria lingual, destacada, e também a veia profunda da língua, podem ser encontradas na camada profunda do triângulo submandibular.

Nós vamos mudar para uma perspectiva anterior do pescoço mais uma vez, para ver o segundo triângulo anterior, que é o triângulo submentual, visto aqui medial aos triângulos submandibulares. E este triângulo é um triângulo mediano, o que significa que ele está localizado na linha média do pescoço, e ocupa as partes superiores dos triângulos anteriores direito e esquerdo. Este triângulo submentual é limitado lateralmente pelos dois ventres anteriores dos músculos digástricos, e inferiormente pelo osso hioide. O corpo do osso hioide forma a base do triângulo, e o seu ápice aponta em direção à sínfise mandibular. O assoalho é formado pelo músculo milo-hióideo, e ele é recoberto pelo platisma, pela fáscia e pela pele, da mesma forma que o triângulo submandibular.

O triângulo submentual é muito pequeno, e contém pequenas veias, como as veias submentuais, que drenam para a veia jugular anterior. E estas estruturas que são encontradas neste triângulo incluem os linfonodos submentuais, vistos aqui destacados nesta figura de uma vista direcionada superiormente em direção ao queixo, sobre os músculos milo-hióideos.

O próximo triângulo é diferente dos outros dois triângulos que nós discutimos, já que eles dividem uma borda na linha média do pescoço. O triângulo muscular, que também é conhecido como triângulo omotraqueal, é limitado superiormente pelo osso hioide, súpero-lateralmente pelo ventre superior do músculo omo-hióideo, e ínfero-lateralmente pelo músculo esternocleidomastóideo, e a base do triângulo será a linha mediana do pescoço, que nós discutimos anteriormente.

O ápice do triângulo será no ponto onde o esternocleidomastóideo e os ventres superiores dos músculos omo-hióideos se encontram. Neste triângulo nós vamos encontrar várias estruturas, incluindo os músculos infra-hióideos, e estes incluem o tireo-hióideo, o esternotireóideo e o esterno-hióideo, e também nesta região você será capaz de encontrar alguns órgãos importantes, que incluem a glândula tireoide, e a glândula paratireoide, que produzem importantes hormônios para o funcionamento adequado do corpo. Os vasos que irrigam estes órgãos também são encontrados nesta área, como a artéria e veia tireóideas superiores, a artéria e veia tireóideas inferiores e a veia jugular anterior.

O último triângulo da subdivisão do triângulo anterior é o triângulo carotídeo, que é uma importante referência anatômica, já que ele contém alguns vasos e nervos importantes. Ele é limitado anteriormente pelo ventre superior do músculo omo-hióideo, superiormente pelo ventre posterior do músculo digástrico e posteriormente pela borda anterior do músculo esternocleidomastóideo. O assoalho é formado por parte do músculo tireo-hióideo, que é o pequeno músculo abaixo do osso hioide, o músculo hioglosso, que é o músculo acima do osso hioide, e pelos constrictores médio e inferior da faringe.

O triângulo carotídeo também é recoberto pelas fáscias superficial e profunda, pelo platisma e pela pele, assim como todos os outros triângulos. Então no triângulo carotídeo existe uma importante estrutura chamada de bainha carotídea, que é uma bainha de tecido conjuntivo fibroso que é parte da fáscia cervical do pescoço, envolvendo os vasos e os nervos que nós vamos discutir agora. E esta bainha contém a artéria carótida comum, que fica localizada lateralmente na bainha, a veia jugular interna, que fica localizada medialmente, e o nervo vago, que é encontrado posteriormente entre os vasos.

Muito bem, a bainha carotídea pode ainda conter linfonodos cervicais profundos, e este é ainda um importante local para se observar, já que é o local onde a artéria carótida comum se bifurca nas artérias carótidas externa e interna. Existem algumas outras estruturas que são encontradas no triângulo carotídeo e eu gostaria de falar sobre elas nos próximos minutos.

Vários ramos da artéria carótida externa são encontrados neste triângulo, como a artéria tireóidea superior, a artéria lingual, a artéria facial, a artéria faríngea ascendente e a artéria occipital. As veias que drenam para a veia jugular interna também são encontradas no triângulo carotídeo, e em sua maioria elas correspondem às artérias que nós mencionamos anteriormente.

Os nervos encontrados neste triângulo são o nervo hipoglosso, que está localizado superficialmente à bainha carotídea, que é uma pequena parte do nervo acessório, e a alça cervical, que é uma alça superficial à veia jugular interna e à artéria carótida comum.

Nós agora vamos ver o triângulo posterior e ele está localizado na parte lateral do pescoço, conforme você pode ver nesta figura. O triângulo posterior é limitado anteriormente pela borda posterior do músculo esternocleidomastóideo, posteriormente pela borda anterior do músculo trapézio, que é parte dos músculos dorsais, e inferiormente pela clavícula.

O assoalho do triângulo é formado pela fáscia pré-vertebral, que recobre alguns músculos que também formam o assoalho do triângulo posterior, como o esplênio da cabeça, o levantador da escápula e os músculos escalenos anterior, médio e posterior. O triângulo é recoberto por uma camada da fáscia cervical profunda e o ventre inferior do músculo omo-hióideo cruza o triângulo posterior, dividindo-o em um triângulo supraclavicular, menor, e um triângulo occipital, maior.

Agora vamos falar sobre o triângulo supraclavicular, que também é conhecido como triângulo omoclavicular ou triângulo subclávio. E este triângulo é limitado superiormente pelo ventre inferior do músculo omo-hióideo, anteriormente pelo músculo esternocleidomastóideo e inferiormente pela clavícula. E o assoalho deste triângulo é formado em grande parte pelos músculos escalenos anterior e médio, enquanto ele é recoberto da mesma forma que todos os outros triângulos, como nós discutimos mais cedo nesta videoaula.

Neste espaço você pode encontrar a parte distal da artéria subclávia, localizada entre os músculos escalenos anterior e médio, que é este longo músculo que você pode ver no lado lateral do pescoço, e se você puder, pense nos músculos escalenos como se formassem uma tenda sobre a artéria.

A artéria cervical transversa cursa superficialmente ao longo dos dois músculos escalenos, e a artéria escapular dorsal com as suas veias também pode ser encontrada neste triângulo supraclavicular, e a veia jugular externa, para qual as veias retromandibular e auricular posterior drenam, fica localizada superficialmente, atrás do músculo esternocleidomastóideo, e finalmente drena para a veia subclávia. Este triângulo contém ainda uma parte do plexo braquial e seus ramos, e o plexo cervical e seus ramos, como o nervo frênico, que inerva o diafragma.

Os linfonodos supraclaviculares também podem ser encontrados neste espaço, que é uma importante referência anatômica que será discutida no final do vídeo. Acima do triângulo supraclavicular fica o triângulo occipital, também conhecido como triângulo omo-trapezoidal, e esta é a segunda parte do triângulo posterior do pescoço. Ele é limitado anteriormente pela borda posterior do músculo esternocleidomastóideo, posteriormente pelo músculo trapézio, e inferiormente pelo ventre inferior do músculo omo-hióideo. E o assoalho é formado pelo esplênio da cabeça, pelo levantador da escápula e pelo músculo escaleno médio.

Neste triângulo vasos como a artéria occipital e a artéria cervical transversa podem ser vistas junto com as suas veias, e existem muitos nervos que podem ser encontrados no triângulo occipital, como o nervo acessório, que cursa em frente ao músculo esternocleidomastóideo e o perfura, a parte superior do plexo braquial, os ramos cutâneos do plexo cervical e o nervo frênico, que também é encontrado neste espaço e cursa inferiormente ao músculo escaleno anterior e inerva o diafragma.

Então nós passamos pelos triângulos mais importantes do pescoço, e para a nossa nota clínica de hoje nós vamos voltar ao triângulo supraclavicular do triângulo posterior do pescoço, especificamente aquele encontrado do lado esquerdo. Então, este triângulo é clinicamente relevante já que é, por exemplo, um local comum para a palpação de linfonodos patologicamente aumentados.

Então, como nós mencionamos anteriormente, os linfonodos supraclaviculares esquerdos, que são encontrados posteriormente à cabeça clavicular do músculo esternocleidomastóideo, que eu acabei de remover, possuem uma significativa importância clínica. Este linfonodo, que é algumas vezes chamado de nodo de Virchow, o linfonodo supraclavicular esquerdo drena a linfa de boa parte do corpo, em especial a cavidade abdominal. E se este linfonodo ficar aumentado e endurecido, isso é conhecido como sinal de Troisier, o que frequentemente é uma indicação da presença de um câncer abdominal avançado, normalmente câncer gástrico ou pancreático, que sofreu metástase ao longo dos vasos linfáticos.

O conhecimento dos triângulos do pescoço também é importante para a avaliação dos pulsos em um exame cardiovascular. Dentro do triângulo carotídeo, o pulso da artéria carótida pode ser avaliado para determinar o pulso central, que pode ainda ser comparado ao pulso radial, que mede o pulso periférico.

O triângulo carotídeo contém ainda o seio carotídeo, que possui células sensitivas chamadas de barorreceptores, que percebem estiramentos da artéria e regulam a pressão sanguínea através de mecanismos de feedback.

Uma massagem externa chamada de massagem do seio carotídeo pode ainda ser utilizada para reduzir a frequência cardíaca e reduzir a pressão sanguínea para propósitos diagnósticos e em casos emergenciais de taquicardia supraventricular.

Então obrigado por ficar comigo ao longo desta videoaula. Agora nós chegamos ao fim. Vamos passar sobre alguns pontos chave que você deve conhecer.

Então nós passamos pelas bordas e pelo conteúdo dos triângulos do pescoço, que devem ser conhecidos, já que eles podem ser boas referências anatômicas durante práticas clínicas. E eu vou só mencionar brevemente os principais triângulos e suas subdivisões que nós vimos durante esta videoaula.

Bem, os triângulos do pescoço podem ser divididos primeiramente nos triângulos anterior e posterior do pescoço, e, primeiramente, o triângulo anterior pode ser subdividido nos triângulos submandibular, submentual, muscular e carotídeo, enquanto o triângulo posterior pode ser dividido nos triângulos supraclavicular menor, e no occipital maior.

Então nós chegamos ao fim desta videoaula.

Obrigado por ficar comigo, e bons estudos!